Não encontrarei mais Paulo José

Tive inveja de Paulo José contracenando com Dina Sfat, sua mulher, em Macunaíma. Acabei me afeiçoando ao grande ator, gaúcho de Lavras do Sul, em curiosos encontros esporádicos no supermercado Zaffari da rua Marechal Floriano, no centro de Porto Alegre, o qual também frequento.

Ele escapava para a capital gaúcha quando permitia alguma folga das gravações das novelas da Globo. Simples e discreto, Paulo José ia fazer as suas comprinhas trajando bermudas, camiseta e um tênis surrado. Conseguia passar desapercebido na maioria das vezes. Porém, mesmo com as dificuldades do Parkinson que avançava, era gentil e paciente com as raras pessoas que o identificavam.

Trocávamos algumas palavras sobre clima, futebol, estas bobagens. Às vezes, entre os corredores de compras, a conversa avançava um pouco, nunca tocando em coisas profissionais Eu tinha o maior cuidado em não expô-lo à tietagem. Não o encontrarei mais no supermercado. Ele nos deixou, nesta quarta-feira, aos 84 anos de idade.

Guardarei na retina a sua última imagem. No final da ladeirinha, Paulo José olhou para trás e sorriu para mim naquele seu jeito triste de sorrir. Como que agradeceu pela cumplicidade em guardar a privacidade de um dos maiores atores do Brasil quando ele apenas tratava de fazer as suas compras no supermercado.

Por Afonso Licks
Jornalista
Foto principal: arquivo pessoal de Afonso Licks

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