Jogando bolita no centro do mundo

O novo ano veio com algo especial, havia no ar um fluído indefinível que vinha do espaço sideral e fazia tudo mais volátil. Definitivamente, eu olhava pro meu umbigo e me sentia no centro do mundo. Na nossa esquerda morava a familia do seu Hélio, a pessoa mais importante da cidade. E na direita era o sobrado do Schütz, que com suas escadarias e quartos sombrios guardava segredos que eu não posso revelar aqui. Onde nos fundos havia uma Apotheke inteira embalsamada, com ácidos sulfúricos e preparados do Paracelso em garrafinhas de várias cores. Sem falar no matinho selvagem com goiabas, araçás, pitangas, cerejas, ameixas… E do outro lado da rua, entre outras glórias, estava o Café Elite, que o filho do dono era meu amigo, e o pai dele era o presidente do F.C. Montenegro. Onde nos fundos estava a casinha encantada com o forno, em que o Degão – treinador do time campeão da cidade – fazia os melhores pastéis, sonhos, papos de anjo do mundo. Todo guri de Montenegro queria ficar amigo do Degão, cuja figura lembrava uma lua cheia avermelhada, mas só eu sabia o segredo de como abrir a janela ao lado do forno, quando no entardecer ele chaveava a porta e ia pra casa. Mas aqui eu me calo.

A gente jogava uma pelada no pátio de pedra, alvejados em cheio  pelos olores hipnóticos daquelas fritanças, e a meio caminho da casinha ainda havia uma grande churrasqueira sempre em ação (onde ocorreu uma tragédia pessoal, que se der chance eu conto) e ao lado dela estava o rinhadeiro. Já pensou o fuzuê que havia ali naquele lugar: pelada, churrasco, Degão, rinhas de galos, tudo misturado, e na frente o Café Elite sonolento, como se não soubesse de nada. Depois dos galos nós nos enfrentávamos na arena redonda, uma vez eu fui de cabeça contra a cabeça do Flávio B., ambos caímos pra trás sem sentidos. E na horta da dona Irma fiz experimentos com dois galos, eu amarrava pimenta escorpião nas esporas pra estudar o efeito da capsaicina. Mas um dia Deus nos mandou um cricri chamado Jânio Quadros e acabou-se o que era doce.

Para, chega de misturar tantos assuntos tão diferentes, cada um teria que ser abordado em particular.

Aquele era um tempo em que só se falava em marciano, e eu andava muito encucado com a possível invasão da terra, e num sonho mau me vi caminhando na Ramiro de noite, ninguém na rua, e vi que lá perto da rodoviária se abria a porta de um disco voador e descia em câmara lenta um marciano e vinha ao meu encontro, estava vestido com roupa e capacete de escafandrista. Dei meia-volta e quis correr pra casa, mas as pernas não obedeciam e o marciano vinha se aproximando no seu passo de robô… Esse tipo de paranoia me assediou um tempo, mas então houve um acontecimento que jogou tudo pra escanteio.

O prefeito era Hélio Alves de Oliveira e a cidade vivia uma fase luminosa, de grande progresso, alegria e otimismo, e a bodega do Licks também expandia os negócios. Foi aí que me contaram que  estava chegando na cidade pra se encontrar com seu Hélio – nosso vizinho e pai do meu melhor amigo – uma criatura chamada Kanica Fukuda… A novidade me deixou de boca aberta, sem saber o que dizer ou pensar, mas diante daquilo marciano ficava fichinha.

Me pus de plantão na rua pra não perder nada do grande acontecimento. Talvez venha com uma grande comitiva, com banda marcial e fotógrafos, pensei. Talvez venha numa banheira americana sem capota, acenando e as pessoas atirando confeti nele… E eu olhava pra direita, mas ainda não se via nada, e olhava pra esquerda… talvez ele venha num iate moderno, singrando pelo rio Caí…

Aí meu olhar foi capturado por um joão-de-barro que estava fazendo sua casinha no poste de luz em frente à drogaria Gallas. Puxa, uma pena eu não ter o bodoque comigo, pensei, desta distância não erro o tiro de jeito nenhum. (Mau como um pica-pau, né maragato?)

De repente se ouviram vozes estranhas e risadas e eu virei a cara, mas tarde demais, só pude ver a metade traseira de um homem entrando pela portinha do escritório do seu Hélio, que era por onde a gente entrava e saía a toda hora. Fui lá e quis entrar mas a porta estava chaveada. Corri e entrei pelo portão lateral, encontrei o Romélio batendo bola contra a parede.

– Pô Romélio, não dá pra gente ir lá dentro olhar o Kanica Fukuda?

Romélio continuou chutando a bola contra a parede e fez um muxoxo, movendo a cabeça e me jogando um olhar de superioridade.

– Não, ninguém pode. Eles estão lá dentro falando de assuntos muito sérios. Nem eu posso.

E começamos nossa pelada um contra um, cada qual sumido nos seus pensamentos, os meus se resumiam a uma palavra: bosta! Mas aí me veio uma inspiração e propus: – Vamos jogar bolita?

Romélio topou e negociou: – Boco? Só jogo se for as vera.

– Não, Nica-fica – eu sugeri. Eu estava com algumas bolitas no bolso, inclusive a minha preferida, uma águida que eu chamava de Nica, decidi que dali por diante ela se chamaria Kanica. Casei duas bolitas e começamos.

Assim se via o novo ano no centro do mundo, eu tentando nicar e ganhar as bolitas do Romélio com minha águida Kanica, enquanto seu Hélio negociava os contratos com o Kanica Fukuda, a salvo de pirralhos bisbilhoteiros. E Paco, filho do seu Nezi, que era mais velho e muito mal-comportado, bolou uma marchinha pra cantar na toada do Zé Pereira.

Kanica Fukuda,
Taka a Faka Navaka,
Mija Nomuro!
Mija Nomuro!

 É… Guri tem mesmo é que entrar no laço.

Publicado no jornal O Progresso – Montenegro RS

Por José Rogério Licks
Foto: arquivo pessoal de José Rogério Licks

Gambito da Rainha

A primeira vez que o eterno feminino se mostrou por inteiro para mim, foi na figura envolvente da Guga. A esquina onde ela morava me vem à memória imersa num verde extático de sombra e mistério. E ali se instalou o clube de xadrez. Num domingo, estávamos já de saída quando entraram dois desconhecidos, o mais jovem com óculos fundo de garrafa de lentes muito grossas, e põe grossura nisso. O mais velho foi logo se apresentando, num ar muito amável e pausado, era o seu Angelo Gobato, e trazia pelo braço seu filho Jeremias, queriam tornar-se sócios do nosso clube.

Foi algo inusitado, nunca tinha aparecido ninguém assim, completamente desconhecido e caído de para-quedas. Os membros do clube de xadrez eram todos gente conhecida, frequentadores de algumas poucas rodas domésticas, a mais famosa era a do capitão L., dela eu voltarei a falar mais adiante. No alpendre da sua casa se degladiavam quase todas as noites os enxadristas menos silenciosos da cidade.

Seu Max tomou a iniciativa e me mandou buscar duas cadeiras na peça ao lado, para os recém-chegados.

E voltamos a sentar, com a atenção posta naqueles dois seres tão desiguais, enquanto o doutor Niquinho puxava o caderno em que registrava nomes e endereços dos sócios. Realmente era um contraste quase chocante aqueles pai e filho, pareciam saídos de uma novela gótica. O esguio senhor Gobato ao falar aprumava o corpo, erguia um pouco o queixo e usava nobres palavras do arco da velha, pouco ouvidas por ali, enquanto assentia levemente com a cabeça e ia dirigindo o olhar a cada um de nós.

– A arte de Caissa, o jogo-arte-ciência, cujo magnetismo irresistível arrancou Marcel Duchamp do seu caminho de glórias, e que Fernando Pessoa cultivou na Rua dos Douradores… Vocês não leram a emocionante Novela do Xadrez de Stefan Zweig, o mesmo que escreveu Brasil, o país do futuro?

Meu bom xadrez, tu que és a paixão dos silenciosos… Tudo pode ser, contanto que me salvem o xadrez“, escreveu o grande Machado de Assis. Como devem saber, Machado ficou em terceiro lugar no primeiro torneio realizado no Brasil, em 1880. Ele aprendeu a jogar com um famoso pianista que havia enfrentado o imortal Paul Morphy… Grande xadrez de Capablanca, Alekhine, e tantos outros gênios, agora tem o Bobby Fischer…

Maomé, que tudo proibia, permitiu e recomendou o xadrez aos seus fiéis.

O xadrez, essa guerra abstrata que um sábio yogi criou para o seu rei no Oriente e que se espalhou por toda a terra, tem também aqui nas dependências do Banco Nacional do Comércio o seu anfiteatro – celebrou nosso novo sócio, abarcando num gesto a sala onde havia sido o balcão de atendimento do pai da Guga, morto num desastre aéreo que abalou a cidade.

Quantas vezes não entramos madrugada adentro em silêncio, debruçados sobre o tabuleiro, regendo as lentas peças com suas mágicas irradiações: a torre homérica, a rainha louca e armada, a cavalaria garibaldina, o último rei e o bispo oblíquo que na verdade é o elefante de combate do Mahabarata, onde se luta pela liberação do mundo ilusório dos sentidos… O que é a infantaria dos peões avançando pelo branco e negro do caminho,  da luz e das trevas, do sim e do não? Eles não sabem que a mão do jogador governa o seu destino, que um rigor de diamante controla a sua vontade e o seu andar…

Como disse Omar Kahyyam, num outro tabuleiro de noites negras e dias brancos também o jogador é um prisioneiro. Deus move o jogador, e o jogador move a peça. E atrás de Deus o Nada recompõe o vazio para que o jogo recomece…

Enquanto essas palavras ribombavam e nos nocauteavam sem direito a qualquer pitaco, Jeremias – que era cheio de corpo e devia andar pelos trinta – se mantinha ao lado derreado na cadeira, os olhinhos oblíquos boiando atrás das lentes, a boca entreaberta de beiço caído. Pelo jeito parecia oligofrênico, como se dizia então.

– Não sou muito  frequentador de igrejas – continuou Angelo Gobato -, mas considero uma inspiração divina ter lido no jornal O Progresso sobre a nova sede do clube de xadrez. E resolvi trazer meu amado filho para o vosso convívio, onde se respira uma atmosfera de reflexão e raciocínio lógico. Ele sofreu na infância alguns problemas de saúde, mas é esforçado e o xadrez certamente  lhe trará um alento saudável, como terapia  mental.

E ao dizer isto se voltou para Jeremias, que percebendo que era com ele, meio que se empertigou e tentou armar um sorriso esperançoso.

– Ué, saiu no O Progresso? Só se eu tô ficando cego, mas não vi nada – objetou seu Rude, soltando sua crônica risada com tosse que sacudia o peito volumoso e devia vir dos mata-ratos que fumava. Seu Rude era uma amostra de como o nome condiciona o indivíduo, uma teoria que não posso destrinchar aqui, mas vou dar um exemplo. No grupo escolar 14 de Julho, que depois ficou Delfina, tinha um guri que se chamava C. Coelho, e não é que ele tinha os dois dentes da frente enormes e o rosto de traços meio engalfinhados, como querendo virar rosto de coelho… E quem subia nos postes  pra consertar, quando faltava luz? Era o seu Kratz. Ora, kratz é o som que faz quando dá curto-circuito, cansei de ouvir lá em casa sempre que chovia muito forte, o pai corria pra consertar os fusíveis lá na venda, goteiras pingando do teto, mas não era a praia dele, as vezes saiam faíscas enormes e ele era jogado pra trás pela descarga… Seja como for, o rosto do seu Gobato ganhou um súbito ar de pânico, como se tivesse sido pego em flagrante e fosse algo grave. Mas ele logo se recompôs.

– Ah, então foi meu bom amigo Mário Inácio que me contou. Eu sempre leio os poemas que ele publica  no O Progresso e troquei as bolas, me desculpem, deve ser a idade.

Ao longo do tempo coube-me ouvir de Angelo Gobato histórias fascinantes do xadrez, do mundo e da vida. Porém nunca pude desvendar alguns mistérios em torno da pessoa dele, apesar de tantos encontros posteriores no clube e na casa em que vivia com o filho, eu ia lá como cobrador oficial de mensalidades do Clube de Xadrez Montenegro. Guga perdi de vista, mas ficou luzindo feito estrela de cinco pontas no  desvão da memória.

Publicado no jornal O Progresso – Montenegro RS

Por José Rogério Licks
Foto: arquivo pessoal de José Rogério Licks

No poço do Butantan

O xadrez montenegrino viveu seus melhores dias nos anos dourados em que o país vivia uma enchente de otimismo, que levou à construção da cidade onde hoje os três poderes assentam suas nádegas e deliberam. Num domingo cheio de luz os membros do clube de xadrez se reuniram, e tomou a palavra o capitão L.

– Neste dia festivo, quero apresentar aos amigos do Clube de Xadrez Montenegro este guri atrevido, que em vez de ir lá jogar futebol com os outros da sua idade, vem nos fazer passar vergonha diante do tabuleiro. Já faz  tempo que ele se infiltrou na nossa roda de aposentados, onde nos reunimos pra empurrar as peças e tagarelar. Ele é um velho disfarçado de guri. Ele vem, senta, fica olhando e tirando ranho do nariz em silêncio, e quando a gente deixa ele jogar, nos massacra sem piedade. É uma pouca vergonha. E ele ainda está fedendo a cueiros… Mas eu ponho a mão no fogo pelo Fedorento -, terminou o capitão pousando as mãos nos meus ombros.

(Nunca é demais lembrar que, segundo as pesquisas, comer ranho estimula o sistema imunológico. Fazer fofoca também é bom, diminui o estresse e a ansiedade.)

Foi assim que eu ganhei o apelido de Fedorento, e fui investido na função de cobrador das mensalidades do clube de xadrez. Ficou combinado que eu passaria na casa do doutor Niquinho, pra recolher o talão de recibos.

Aliás, isso de ganhar apelidos é uma recorrência na minha vida. Em casa e na vizinhança eu era o Geio, e no CPOR um maldito espalhou que eu não conseguia dizer C2, quando ficava no comando do nosso pelotão, dizia chheee dois. E passou a ser meu apelido. Ganhei vários outros, o mais singelo foi Mano de araña, de um cantor argentino, quando ele viu minha mão esquerda nas cordas do violão. E no exílio todos me conheciam por Gaúcho.

Aquela iniciação oficial no xadrez me encheu de emoção, com a perspectiva de seguir os passos do R. e me tornar campeão da cidade. Quando todos já estavam na cama, eu ainda estava lendo um livro sobre a vida do Alekhine, que seu Max me emprestou. Aí deu fome e tracei um naco de carne, mas acho que estava estragada. Fui dormir e tive um pesadelo vívido. Sonhei que estava numa cidade da serra, disputando o campeonato estadual.

Estava no quarto do hotel, tinha comido um churrasco e um naco de carne ficou atravessado na goela. Sentado frente ao tabuleiro, estava analisando aberturas de jogo, me preparando para a partida decisiva, que devia começar em pouco no saguão do hotel. Só que eu não conseguia levantar e sair do quarto, e o naco de carne não me deixava respirar, eu estava morrendo asfixiado. Aí acordei, no meio da noite e com o coração aos pulos.

Pesadelo também era algo recorrente nas minhas noites. Por sinal, na infância eu desenvolvi uma espécie de sonambulismo, que divertia muito o pessoal. Lembro que certa vez passamos na casa de nossos avós paternos, depois da missa matutina, eles moravam ao lado da Igreja Velha, vovô também era negociante, só que sua vendinha era muito menor que o Armazém Licks. Pra chegar na sala de estar havia que percorrer o corredor que atravessava a venda de fio a pavio. Ah, o cheiro que tinha ali… A nossa venda podia ter um cheiro mais forte, mas eu não sentia, decerto por estar acostumado. E bastava eu por um pé na venda do vô, para aquele cheiro me capturar e me dar  fome.

Era uma mistura de salamito com queijo, alho, manjericão, sei lá o que mais. E folhas de louro, que é um símbolo de imortalidade, como soube mais tarde. Pois como ia dizendo, passamos lá, a vovó estava sentada numa cadeira preguiçosa. Todos se acomodaram, menos eu, que fui pra janela ver se via algum passarinho por ali. E o pai começou a contar as novidades, o ponto alto foi quando ele descreveu minhas tentativas de subir nas paredes dormindo, naquela madrugada. Todos caíram na risada e eu virei o rosto pra ele, duvidando que fosse sério, pois não me lembrava de nada. Mais de uma vez caminhei dormindo e às vezes sonhando, sempre na parte lá de casa onde havia uma cisterna subterrânea. O famoso Limbo das aulas de catecismo, para mim era lá.

Há sonhos que são bons, outros que não. Vale a pena anotá-los, mas tem de ser em seguida, pois se esfumam em questão de minutos, aprendi de um iogue no interior do Piauí. Em 71 eu estava morando em Manaus e conheci a Suelene, fomos passear na ladeira do Quebra Cu, de onde se tinha uma bela vista panorâmica. E fui com ela conhecer a cascata de Pedreiras, no igarapé do Mindu, onde perto morava uma amiga. Contou que certa vez  ela estava lá, chovia muito, e quando levantaram uma manhã, tinha uma sucuri rastejando para a cozinha.

Ela amava o Mario Quintana, recitou de memória Da vez primeira em que me assassinaram. Eu fazia refeições no quartel do 1°BIS e o oficial M. Bento me levou pra conhecer o círculo de xadrez manauara, num local perto da Praça da Saudade. Numa daquelas noites, depois de ouvir histórias sobre coletas de serpentes e preparo de soros antiofídicos, tive um pesadelo, sonhei que estava cercado de cobras e lagartos no fundo de um poço, no instituto Butantan.

Foi só essa vez, depois nunca mais o Butantan pintou na tela da minha consciência. Mas agora de repente, aí está ele de novo. Será que é sonho, estamos descendo pro fundo do poço e o Butantan é a tênue cordinha que pode nos puxar para fora…Suelene querida, velhinha septuagenária, se aí no coração do Amazonas o teu coração ainda não se calou por falta de ar, me diz: foi tudo um sonho?

Se não foi tudo um sonho, este país já viveu dias melhores. Houve um tempo em que se dizia: Deus é brasileiro. E a gente quando criança  amava com fé e orgulho, ainda que sem muita habilidade. Era imensa a doçura de ter nascido aqui. O simples ato de respirar era fonte de prazer.Mas agora ficou difícil respirar. Pessoas morrendo asfixiadas… O pesadelo é a realidade…

Onde foi parar tudo aquilo, como é que fomos ficando tão nus e isolados… A beleza da vida, o canto dos passarinhos no silêncio das matas, as finas gotas de orvalho caídas do azul do céu, a alegria e a ternura das pessoas, o humor inteligente e a primazia do espírito sobre as armas, a solidariedade, o amor… Onde ficou tudo aquilo… ou foi tudo um sonho? Não, não foi um sonho. Tudo aquilo está lá esperando, no fundo do poço do Instituto Butantan.

Publicado no jornal O Progresso – Montenegro RS

Por José Rogério Licks
Foto: arquivo pessoal de José Rogério Licks

Para as alturas pelas agruras

Subindo afobado a ladeira da Olavo Bilac, já perto da igreja velha, o coração disparou e curti um flash back invertido, me vi entrando na venda cheia do fim-de-ano e anunciando em voz alta aos meus pais:

– Fui aprovado! Passei de ano!

Era o meu primeiro dia de escola e pouco depois, lá estava eu fazendo fila no pátio interior do Colégio São José, assediado por duas impressões vertiginosas: na frente, na ponta da fila, o rosto da Osina, mais bonito que os santinhos da Virgem Santa, que me perdoem a blasfêmia. E pela direita, subindo de uma cozinha meio subterrânea, aquele cheiro de pirulito recém tirado do forno…

Eu era o penúltimo da fila, o último era o Waldomiro, um guri fleumático e silencioso que executava um prodígio:  de mãos fincadas nos bolsos, ele chegava perto, te olhava firme nos olhos e começava a abanar as orelhas. Éramos só nós dois contra um bando de gurias, e a irmã Clotilde logo me pegou pra courinho, viciou na minha orelha.

Quero esclarecer que, sendo filho da dona Irma, eu era muito devoto, e como se vê, também fui educado em colégio de freiras. Só bem mais tarde, quando conheci o seu Angelo Gobato e depois de ler o Cândido do Voltaire, é que eu caí na vida. Mas com a piazada da vizinhança, já imitava em altas vozes a cantoria do professor Egidio, que regia o coro na igreja velha: Dominus vobisco, Eu vou pro céu tu vais pro cisco

O velho Egidio dava aulas no colégio dos maristas e era o terror da gurizada, puxava orelha, batia a régua nos dedos, dava cascudo na cabeça dos alunos. Às seis da tarde os irmãos rezavam juntos, caminhando com suas batinas negras de um extremo à outro no primeiro andar, como panteras na jaula, enquanto a gente vadiava por ali, chutando uma bola contra o muro do colégio. Camisa verde com brasão e calça de brim cáqui, fazíamos fila para entrar na sala de aula, e era quando o Cacildo vinha encher o saco. Ele tinha se especializado em puxar o rego da calça, aquela parte que se mete pra dentro da bunda. Em silêncio e agachado, ele nos examinava, como o sargento que passa em revista a tropa em formação. Quem tinha a calça solta não acontecia nada. Mas se tinha a costura afundada, ele tacava o dedo no cu do incauto e puxava pra fora, engrossando a voz: “Tem boi na linha!”             

Quem dava aula de latim – ad astra per aspera, Ludus Tertius – era o Stefano, ele usava roupa civil, tinha largado a batina. Mas o jeito dele falar era muito mais de padre que os outros, que ainda eram. Padre não… frade, acho. Irmão Darcilo dava aula de inglês e ensinava: pra falar bem inglês, basta imaginar que você tem uma batata quente na boca: “the third theologian with those foolish things”. Já o irmão Josefino, o jeitinho dele não enganava ninguém e tinha sido pego com um guri no colo, foi um escândalo.

A primeira hora de aula era História Sagrada e quem dava era um irmão baixinho, gordinho e vermelhinho, pele e cabelo (Vivaldi era O Padre Vermelho, sabiam?), não lembro seu nome, tinha um cheiro avinagrado de pepino em conserva. Ele não usava óculos e nos aconselhava a piscar os olhos com frequência para preservar a agudeza visual, era muito boa gente. Agora lembrei, era o irmão Canísio.

E sempre algum aluno tinha de ler em voz alta trechos da história do cristianismo. Eram as primeiras horas da manhã, cabeceávamos de sono. Uma manhã apareceu naquelas crônicas um tal de Pepino, o Breve… Pra quê… Foi como acender o pavio de um busca-pé. Mas esse episódio fica pra outra hora, por falta de espaço aqui.

Os irmãos mudavam os nomes, pegavam codinomes tipo assim: Teófilo em lugar de Hermenegildo, como fiquei sabendo. Aliás, o Teófilo não tinha no gibi. Ele ensinava francês e curtia duas paixões, a maior era o futebol na cancha de areia do colégio. A outra era a linda horta de cenouras que ele cultivava atrás da cancha e que eu ia lá com o Cláudio Coelho, um guri que eu conheci no grupo escolar e tal como o Waldomiro, reencontrei no ginásio São J. Batista. (Nas freiras só fiz o primeiro ano, depois mudei pro grupo escolar, a Osina também foi, mas não por mim…)

O irmão Teófilo não perdia pelada e dava gosto vê-lo correndo no sol de batina negra que descia até os tornozelos, pulando pra cabecear um escanteio com os óculos de aro fino rebrilhando no rosto vermelho, disputando a redonda com a molecada que gritava com ele, porque com a batina ele retia a bola e levava vantagem. Batina velha e puída. Porém nas partidas sérias, quando a seleção do ginásio enfrentava uma equipe de fora, ele vestia uma impecável batina de domingo. Mas claro, quem brilhava mesmo feito lantejoula era nosso goleiro Agamenon, na sua jaqueta dourada com distintivo índigo, que ofuscava o sol.     

Festa do colégio, partida três a três faltando três minutos para terminar, o Macaco driblou seu marcador com uma meia-lua, avançou e disparou seu famoso petardo de esquerda, sem chance pro goleiro da Tanac. O público que lotava as arquibancadas feitas de areia e lajes festejou pulando e gritando. Nossos adversários ainda levaram a bola ao centro e tentaram um ataque desesperado, mas logo soou o apito final. De onde eu estava assistindo, vi o Agamenon esquivando os torcedores que invadiam a cancha comemorando, querendo abraçá-lo.

Ele foi abrindo caminho até chegar num canto esquerdo junto ao muro, lá estava o Macaco no chão. Ao fazer o gol da vitória ele havia tido uma contusão, parecia. Agamenon puxou ele pelo braço. Mas já era só um boneco de carne e osso, tinha sido um ataque fulminante do coração. Macaco era filho do seu João. Seu João morava com a mulher e filhos numa casinha amarela na rua São João, ela tinha o bazar São João e os filhos estudavam no ginásio São João.

No dia de São João Macaco fez o gol da nossa vitória e entrou no céu. No velório fiquei sabendo que o nome dele mesmo era João Batista. Tudo isso na cidade de São João de Montenegro.

Publicado no jornal O Progresso – Montenegro RS

Por José Rogério Licks
Foto: arquivo pessoal de José Rogério Licks

Presente de Natal

Num chat recente um amigo com quem comparti o curso de engenharia escreveu que nunca conheceu alguém “com tanto instinto de liberdade” como eu. Atribuí esse afago exagerado em parte às raízes existencialistas dele, no meu discurso essa palavra aparece pouco.

Mas o fato é que nesta pandemia estamos vivendo uma inversão da liberdade. E nos céus apareceu a maior estrela de Natal dos últimos tempos, devido à conjunção tão especial de Júpiter com Saturno, que só acontece a cada duzentos anos, anunciando uma grande mudança. Nos tantos natais que vivi, houve algum com tanta carga simbólica como este?

Eu tinha seis anos, dormia com meu pessoal num espaço que fazia parte do armazém Licks, atrás tinha a horta da mãe, onde por uma abertura nos fundos eu passava pro matinho da casa do Teobaldinho Schūtz. Eu pulava o muro e passava pro pomar da dona Olga, quando escurecia, pelas goiabas e outras coisas. Mas não tinha furo na cerca da direita, o que me fazia caminhar pelo corredor onde o Roque pendurava as gaiolas com passarinhos, sair pelo portão, caminhar alguns metros na rua e entrar pela porta da casa do meu amigo Romélio, para jogar uma pelada um contra um. E era o único momento em que me deixavam sair de casa. Esse era o meu mundo, sempre tinha sido assim. Mas aí a vida começou a correr como um rio em tempo de enchente.

Numa pelada um contra um estávamos jogando no pátio da casa do Romélio, dei um bico na bola, ela voou contra as janelas da sala de estar, houve estilhaços e outros estragos, que me fizeram dar no pé no ato, mas me presentearam uma boa sova.

Noutro momento estava no matinho do Teobaldinho, onde havia uma palmeira, perto da cerca de estacas de madeira e arame, do outro lado era a cancha de tênis, junto ao cine Goio-En. Eu sempre tinha uma caixa de fósforos comigo, adorava ficar olhando um foguinho. Vi que na palmeira tinha folhas secas e acendi um fósforo, fiquei ali brincando, a folha queimava e o fogo apagava. Mas aí uma folha não apagou, prendeu noutra e quando vi toda a palmeira estava queimando. E logo a cerca da cancha de tênis estava em chamas… Saí correndo pra me esconder, enquanto se espalhava o alarme na vizinhança. Eles acabaram me descobrindo, no terreno baldio do outro lado da rua, ao lado da drogaria, e levei a maior tunda de cinto do pai.

Um tempo depois me puseram a cuidar do Betinho, ele não tinha nem um ano de vida e não queria dormir. Fiquei lá embalando ele no bercinho, ele choramingando, era na peça do armazém onde dormiam nossos pais e nas paredes havia prateleiras com artigos de todo tipo. Enquanto movia o bercinho fiquei ali olhando, nas prateleiras havia panelas de alumínio, rolos de papel celofane e de seda, envelopes de carta, velas de cera e castiçais, loção Juvenia para o cabelo, óleo Glostora… De repente descobri num canto foguetes, busca-pés, trepa-moleques. Peguei um rojão bojudo e fiquei examinando, enquanto movia o bercinho com o pé. O Betinho tinha parado de choramingar, mas era preciso dar um tempo ainda, pra ele ficar bem dormido. Então fiquei pedalando o bercinho e resolvi pegar a caixa de fósforos e brincar de acender o rojão, sem acender. Roçava de leve o pavio nas bordas da parte áspera, onde não havia substância para provocar a ignição, curtindo a sensação de perigo. Mas o pavio acendeu e ali estava eu com uma bomba na mão que ia explodir em dois ou três segundos. Joguei o rojão pela janela, mas a vidraça estava fechada, ele bateu, foi ao chão e explodiu. Fiquei ali paralisado de susto, e logo veio a mãe, que estava trabalhando no balcão com o pai, e me tirou dali puxado pela orelha, enquanto meu irmãozinho dormia como um anjo.

E assim outras catástrofes de todo tipo vinham ao meu encontro naquele ano, sem que eu pudesse saber os motivos. Mas meio que intuía que algo muito forte estava rolando. Certa manhã, parado no portão fechado, olhando o que acontecia na rua, vi chegar o caminhão do vendedor de côcos da Bahia. Ele e o ajudante carregaram um saco cheio – eram oitenta quilos, mais tarde fiquei sabendo – pra dentro do armazém e, enquanto passava a fatura pro seu Otto, trocaram algumas palavras que, mesmo sem poder entender, me deixaram grilado de pura intuição. Muitos anos depois entendi, era a notícia do suicidio de Getúlio Vargas.

Mas o ápice foi um pouco depois, brincando com a nossa turminha nos fundos da casa do Romélio, ali havia uma figueira que eu amava, onde vinham as saíras-de-sete-cores pousar e comer figos. Estavam também o Lair, o Paco e o Teobaldo, e nas brincadeiras me entusiasmei e subi ao telhado do galinheiro que havia colado na cerca pro terreno da dona Olga Leser. O telhado cedeu e eu despenquei lá de cima. Eu era bem gordinho, o que me dava vantagem nas brigas com a gurizada, mas foi a minha desgraça no galinheiro, quebrei a perna bem feio.

Comecei a berrar da dor e, sem saber o que fazer, os guris todos se mandaram e eu comecei a me arrastar chorando em direção à venda. Quando cheguei lá, não havia nenhum freguês e seu Otto estava de óculos imerso na leitura de um livro. Quando me viu no chão chorando, não atinou bem com o que sucedia:

– O quê que tu quer guri?, falou impaciente. Mas depois chamou a dona Irma que se pôs a gritar em pânico e correu pro consultório do doutor Juliano, que era no outro lado da rua Ramiro, no prédio pegado à drogaria Gallas. O doutor Juliano mandou chamar um auto de praça e fui levado pro hospital. A fratura tinha sido longitudinal e me engessaram a perna completamente, do tornozelo à virilha. O que eu sofri dentro daquele gesso. À medida que o calor ia aumentando, aumentava a comichão em toda parte. Nos primeiros tempos ficava sempre deitado. Mas nas vésperas do Natal já conseguia rastejar me apoiando nos braços, como um jacaré. E foi assim que fui até o portão e vi emocionado a figura de vermelho e branco se aproximando pela rua. Pouco depois o Papai Noel me entregou dois presentes, um bafo de cachaça e uma bola de couro número cinco. Mas os melhores presentes daquele Natal vieram depois, quando o doutor Juliano cortou o gesso me devolvendo a mobilidade.

E quando, no começo do novo ano, entrei para a escola e se abriram para mim os caminhos do mundo.

E da liberdade.

Publicado no jornal O Progresso – Montenegro RS

Por José Rogério Licks
Foto: arquivo pessoal de José Rogério Licks

Deveríamos assustar?

Aprimeira-ministra Angela Merkel fez emocionado apelo aos alemães: evitem que este seja o último Natal com avós. Na Inglaterra, já se usava o slogan “Don’t kill grandma / grandpa” (não mate os avós). Ou seja, se jovens teimarem em se aglomerar, que não se aproximem dos idosos, não venham lhes trazer no Natal um abraço da morte.

Será que adiantam apelos ? O mundo está vivendo um agravamento, como era de se prever. Hospitais estão lotados na Coréia do Sul, que meses atrás era exemplo no controle da Covid-19. Os EUA seguem recordistas, com mais de 300 mil mortos.

É verdade que, proporcionalmente, as mortes vinham diminuindo graças ao aprendizado de urgência dos profissionais de saúde ao longo dos meses, com tratamentos que foram se tornando menos experimentais. No entanto, o contágio já esgota a capacidade de atendimento hospitalar, deixando muitos pacientes sem opção senão tratarem-se em casa, sem respiradores, tubos e condições só oferecidas em UTIs. Em consequência, volta a aumentar o número de óbitos.

Uma colunista norte-americana escreveu que talvez só exista uma única forma de forçar a população a se proteger: assustá-la. Lembrou das campanhas anti-tabagismo por volta dos anos 70, em que as TVs foram obrigadas a veicular imagens aterradoras de órgãos humanos seriamente atingidos pela fumaça do cigarro. Não por coincidência, despencou o consumo tabagista nos EUA.

Leis foram criadas e fumar foi progressivamente proibido até ficar praticamente restrito a domicílio residencial. Houve quem reclamasse de ter sua liberdade tolhida alegando que fumar era direito pessoal. Só que outras pessoas coabitando a casa também têm direito a não se intoxicar por fumaça de segunda mão.

Na pandemia, cabe uma ressalva: não se deve fazer dos encontros familiares um “bode expiatório”, pois não são eles os maiores focos de contágio, embora também sejam efetivamente situações de risco, especialmente quando há visitantes. Foi a discussão que os EUA vivenciaram em seu importante feriado de Ação de Graças (Thanksgiving) no final de novembro, e que repercute agora quando o país sofre uma explosão de contágio. Também discute-se como fator agravante o voto presencial nas recentes eleições por lá.

Recomenda-se que as famílias criem um rigoroso plano de ação, sacrificando algumas coisas como abraços e beijos, usando máscaras, óculos, distância pessoal, e o que mais possa ser feito. É melhor que encontros sejam ao ar livre em vez de recintos fechados, e que cada família produza e consuma sua própria comida e bebida.

Os idosos, melhor que fiquem isolados, e que alguém lhes permita um acenar ao longe ou mesmo por video/celular, a lhes assegurar atenção e carinho. Famílias que conseguirem cumprir um protocolo assim estarão menos vulneráveis a contágio. Se não o fizerem, certamente estarão dando chance ao perigo.

Os focos principais de contágio são locais públicos, principalmente os fechados: restaurantes, bares, academias, aviões, ônibus, trens, elevadores, etc e ainda lugares abertos como praias onde a aglomeração é concentrada. Medidas de proteção adotadas nesses locais tem sua eficácia fortemente desafiada pela voracidade com que o SARS Cov-2 consegue se espalhar.

Receio que infelizmente haverá muitos casos de contágio em encontros familiares desse Natal. Muita gente não se protege e não se dá conta do risco a que submetem idosos e pessoas com questões de saúde. Festas acontecem aqui e ali, fazendo lembrar cenas do filme “Titanic” em que no salão de baile passageiros e passageiras dançavam enquanto o malfadado navio os afundava para a morte.

Então, na falta de ação do poder público em leis e fiscalização, quem sabe os governantes devessem iniciar uma campanha para assustar a população, exibindo as cenas brutais das vítimas dessa tragédia e não apenas estatísticas anônimas. Medo, sabemos, é um mecanismo de proteção.

Nosso presidente teria facilidade para isso, pois quando fala é com contundência, quase xingando, poderia fazer efeito. Nos bastidores políticos, fala-se que Bolsonaro começou a mudar seu tom negacionista, passando a admitir a aflição por que passa a população. Seria bom que adotasse de vez essa mudança de curso, faria bem ao país. Além disso, lhe renderia bem mais votos para uma possível reeleição em 2022 do que insistir brigando com governadores, judiciário, e gente de seu próprio governo.

Uma campanha agressiva não precisa ser exclusividade do governo federal. Poderia ser também lançada por autoridades estaduais e municipais, até pela própria iniciativa privada. Assustar clientes pode ser ruim para os negócios, mas acima disso importa que haja clientes.

Definitivamente, não se deve usar a expressão “Boas Festas” para este final de ano. Porém, isso não impede que no Natal de 2020 possamos proporcionar congraçamento familiar, ainda que de forma diferente, ao menos em famílias conscientes e que usem bom-senso. Nas outras … “jump scare” ! Que sejam assustadas, e bem assustadas, para que tomem noção de uma vez por todas.

Publicado no jornal O Progresso – Montenegro RS

Por: Augusto Licks
Jornalista e músico. Como jornalista, foi editor de rádio e TV em Porto Alegre, colunista de O Estado de São Paulo Online, e atualmente colabora com o jornal O Progresso de sua cidade natal, Montenegro/RS. Como músico foi o guitarrista da fase de sucesso dos Engenheiros do Hawaii, manteve uma importante parceria com o cantor e compositor Nei Lisboa, é autor de trilhas para cinema e teatro, além produtor musical. Apresentou-se em centenas de shows no Brasil, incluindo eventos como Rock In Rio e Hollywood Rock, e em países, como Rússia, Japão e Estados Unidos.

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